quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

3. - CAP. II - PORTUGAL E A EXPANSÃO EUROPEIA



Download do texto integral do blogue em »




Imaginemos esse mar imenso a que os portugueses nunca poderiam ser alheios. Imagine-se ainda todo um conjunto de lendas dessa ignota imensidão e de histórias fantasistas, de seres incríveis, monstros e demónios – veja-se o Livro de Maravilhas de João de Mandeville, publicado pela primeira vez em 1366.

Os comerciantes portugueses começaram por escalar alguns portos da Bélgica – v.g., Bruges –, França e Inglaterra.

E isto, porque já no século XIII se construíam navios em Portugal que atingiam portos do Mar do Norte, pressupondo algum conhecimento da arte de navegar.

Existem notícias de que no reinado de D. Afonso IV, alguns navios portugueses tenham também feito rumo às Ilhas Canárias.

Temos dúvidas quanto à atestada descoberta por alguns historiadores, neste período, de algumas ilhas dos Açores, sem prejuízo da descoberta da Madeira.

Utilizavam os navegadores portugueses como já anotámos em momento anterior, o método de “rumo e estima”, e as cartas-portulanos entrecruzadas de linhas de rumo, linhas rectas que partem de certos pontos da carta na direcção dos pontos cardeais - as 32 direcções assinaladas nas rosas-dos-ventos.


É interessante anotar, que onde aparece pela primeira vez a rosa-dos-ventos é na Carta de Pinelli, de 1387.



Portugal começa então a manifestar a sua intenção expansionista. Encontrar novos mercados, a que foi acrescentada uma intenção religiosa, uma curiosidade natural, e quiçá um aventureirismo algo incompreensível para as motivações hodiernas, “espírito de aventura que confunde o entendimento”, como escreveu o almirante Kammerer.


A vida a bordo era preenchida por tédio, doenças várias, sendo uma das mais devastadoras o escorbuto, naufrágios constantes com os navios “comidos pelo mar”, expressão que menciona o seu desaparecimento com o de toda a tripulação. A regra era a de que em cada 3 homens 2 morriam nestas viagens.
Os homens tinham direito a alguns quilos de carne salgada distribuídos semanal ou mensalmente, cebolas, vinagre e azeite, bem como a um biscoito muito duro, meio-podre e com odor fétido que era a base da alimentação. Vinho e água na proporção de uma canada por cada um. O vinagre também era usado para desinfectar os porões infectos e a água mal acondicionada em tonéis impróprios para tal fim, era fonte de inúmeras maleitas.
O mar era uma incógnita constante. Nem sempre a experiência dos navegadores era bastante para que num temporal desfeito, mesmo colocando o navio em fuga controlada, uma onda de través não o arrastasse em escassos minutos com todos os seus tripulantes para as profundezas, como aconteceu a Bartolomeu Dias e a Nicolau Coelho.


Atente-se que a construção naval portuguesa apadrinhada por lei de D. Fernando, do ano de 1377, foi um estímulo para os descobrimentos portugueses.
No entanto, os recursos eram insuficientes, os navios pequenos e múltiplas vezes incapazes de suportar a violência de tempestades de “mar grosso” que ocorriam no Oceano Atlântico.



É aqui que nos cumpre honrar a coragem, abnegação, capacidade de resistência ao sofrimento, aventureirismo de homens que quando largavam ferro na direcção do além desconhecido, já vislumbravam a morte no horizonte, por doença, fome, sede ou naufrágio, capitaneados e conduzidos por comandantes e pilotos cultos sempre dispostos a trocar as suas vidas pelo interesse nacional. Realce-se que como já ficou dito, em três tripulantes apenas um regressaria com vida, o que justifica o ditado da época: “se queres aprender a orar, faz-te ao mar”.








Veja-se ainda »


(BLOGUE DE NAVEGAÇÃO)





Sem comentários:

Enviar um comentário